domingo, 1 de março de 2009



Poesia clandestina

Esta poesia está nua — e morta.
Não de olhos fechados,
alheios a mim.
Não de lábios silenciados,
distantes de mim.
Não de braços cruzados,
cansados de mim.

Morta, esta poesia está
para além dessas luas
— desses vazios em meus olhos,
para além desses ecos
— dessa tosca sonoridade dos meus lábios,
para além desses gestos,
— desse indiferente existir dos meus braços.

Fica-me, pois, este corpo,
também nu, também morto.
E dele não hei de fugir,
nem dela hei de esquecer.

E se ainda insisto no viver,
é que se recusam a morrer.

(Poema do livro Poesia Clandestina.)
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(...) E te cansarás
de sofrer em demasia,
de escrever o sofrimento
dos teus olhos,
escrever em pensamentos
a história universal
da tua dor.
E depois chorar,
como um infante,
chorar. (...)

(Trecho do poema nº 5, do bloco Não amarás, do livro Poesia Clandestina.)
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(...) Tua poesia não terá sentido,
e tua vida será normal.
Apenas te será estranho
o teu ainda sofrer
por um rosto,
um olhar,
um corpo público
dentro da tua dor privada.

(Trecho do poema nº 7, do bloco Não amarás, do livro Poesia Clandestina.)
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(...) Vou ao cadáver da coisa morta
e lá vejo todas as minhas quedas.
Vejo, tomado de remorsos abismais,
como, em cada verso,
acreditei na poesia. (...)


(Trecho do poema nº 2, do bloco Coisa morta, do livro Poesia Clandestina.)





Sejam bem-vindos.

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